sábado, 3 de outubro de 2009

EDITORIAL - Na dúvida, pela cidade Jornal cruzeiro 01-10-09


, o prefeito pode acreditar na inocência de seus colaboradores. Mas a defesa de indivíduos não deve jamais se sobrepor ao bom funcionamento da administração, pela qual Lippi é responsável

Por mais sinceras que sejam, as garantias verbais de honestidade e seriedade, desacompanhadas de atitudes concretas que as corroborem, não serão suficientes para afastar do governo Lippi as suspeitas gravíssimas surgidas no bojo da Operação Pandora, da Polícia Civil, que revelou um suposto esquema de propinas na Prefeitura de Sorocaba, no qual estariam envolvidos altos integrantes da administração.

Ainda que possa ter sido doloroso para o prefeito Vitor Lippi (PSDB), o afastamento de seu principal articulador político e braço direito de todas as horas, Maurício Biazotto Corte, da Secretaria de Governo (segundo se informa, por solicitação do secretário), foi acertado. O mesmo procedimento deve ser adotado pelo prefeito, a bem do interesse público, em relação a outros nomes que eventualmente possam ser formalmente acusados ou colocados em suspeição. E, ao agir dessa forma, o prefeito poderá ficar tranquilo com sua consciência, pois não se trata de antecipar julgamentos - algo que, segundo declarou, quer evitar -, mas sim de resguardar a administração de possíveis prejuízos decorrentes da manutenção dessas pessoas em seus cargos, como manipulações de provas e pressões contra testemunhas.

Pessoalmente, o prefeito pode acreditar na inocência de seus colaboradores e ter, por eles, uma confiança inabalável. Suas declarações públicas de apreço por este ou aquele não devem, entretanto, ser um pretexto para o imobilismo em relação às denúncias - e o mesmo se aplica a sua bancada na Câmara. A defesa de indivíduos, por questões pessoais ou políticas, não deve jamais se sobrepor ao bom funcionamento da administração, pela qual Lippi é responsável. A confiança excessiva, como já ficou provado em mais de uma ocasião, pode sempre ser traída, com graves prejuízos para o governo e, por extensão, para toda a coletividade. Como prefeito, o dever de Lippi é fazer o que está a seu alcance para esclarecer cabalmente as denúncias, custe o que custar e doa a quem doer.

Tal atitude implica algumas premissas básicas, que certamente não escapam ao prefeito, mas não custa recordar: 1) procurar manter-se informado sobre o andamento das investigações e as informações colhidas até agora pela Polícia Civil, para embasar a tomada de decisões; 2) colaborar em tudo o que for possível com a investigação policial, assegurando o acesso a bancos de dados e documentos, e resguardando essas informações de possíveis violações ou sumiços; 3) delinear internamente medidas administrativas para apurar, independentemente da investigação policial, possíveis irregularidades e desvios de conduta de servidores; 4) promover a revisão dos processos de autorização para instalação de postos de combustíveis (alvos das denúncias de suborno de funcionários municipais), nos últimos anos; e 5) liberar a bancada governista para que a Câmara também possa conduzir uma investigação independente, inclusive com a possibilidade de colher depoimentos de pessoas alheias à administração, envolvidas nos fatos denunciados.

De todas as atitudes possíveis, uma postura refratária às denúncias, do tipo “quem denunciou vai ter que provar” ou “isso é coisa de gente que quer desestabilizar o governo”, é a que menos interessa para a cidade, pois a tendência, neste caso, é sempre de proteger os envolvidos e acobertar informações.

Um governo sério deve resistir à tentação de mostrar-se infalível diante da opinião pública, e ter a coragem de buscar a verdade por seus próprios meios, sem receio do que possa encontrar.

É isso o que a população sorocabana, ainda estarrecida com as denúncias, espera de Vitor Lippi e dos vereadores. Pelo bem da cidade, acima de tudo.

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